Foi há muitos e muitos anos já,
- Num reino de ao pé do mar.
- Como sabeis todos, vivia lá
- Aquela que eu soube amar;
- E vivia sem outro pensamento
- Que amar-me e eu a adorar.
Eu era criança e ela era criança,
Neste reino ao pé do mar;
- Mas o nosso amor era mais que amor —
- O meu e o dela a amar;
- Um amor que os anjos do céu vieram
- a ambos nós invejar.
- E foi esta a razão por que, há muitos anos,
- Neste reino ao pé do mar,
- Um vento saiu duma nuvem, gelando
- A linda que eu soube amar;
- E o seu parente fidalgo veio
- De longe a me a tirar,
- Para a fechar num sepulcro
- Neste reino ao pé do mar.
- E os anjos, menos felizes no céu,
- Ainda a nos invejar…
- Sim, foi essa a razão (como sabem todos,
- Neste reino ao pé do mar)
- Que o vento saiu da nuvem de noite
- Gelando e matando a que eu soube amar.
- Mas o nosso amor era mais que o amor
- De muitos mais velhos a amar,
- De muitos de mais meditar,
- E nem os anjos do céu lá em cima,
- Nem demônios debaixo do mar
- Poderão separar a minha alma da alma
- Da linda que eu soube amar.
- Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos
- Da linda que eu soube amar;
- E as estrelas nos ares só me lembram olhares
- Da linda que eu soube amar;
- E assim estou deitado toda a noite ao lado
- Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
- No sepulcro ao pé do mar,
- Ao pé do murmúrio do mar.
Traduzido por Fernando Pessoa
Obtido em “http://pt.wikisource.org/wiki/Annabel_Lee“
Para quem estiver interessado em ler outras obras de Poe pode visitar o site : http://www.scribd.com/doc/2032274/edgar-allan-poe-ficcao-completa
Sempre bom lembrar o tremendo Poe. E aproveito para sugerir um salto a um post no meu blog, já com uns meses, onde se pode ler o original, com tradução minha, do belíssimo A Dream Within a Dream
(em http://innerspace22.spaces.live.com/blog/cns!C501FF0073089D1C!602.entry),
poema que teve uma espectacular versão musicada pelos Propaganda em 1985, e que ainda se pode ver no YouTube
(em http://www.youtube.com/watch?v=SS86mjP4NYY)
Obrigado por mais uma visita caro nuno. Irei certamente ao teu blogler o texto; Poe tem qualquer coisa de mágico que nos deixa suspensos por entre as palavras…é daqueles autores que nunca esqueço…