Brisingr – Review

Finalmente consigo postar a crítica há tanto prometida ao terceiro livro do ciclo da herança de C.Paolini. Tentei ter cuidado e inserir o menor número de spoilers possíveis, contudo eles estão presentes… por isso cuidado! O texto que se segue é apenas fruto de uma opinião pessoal, terei todo o gosto em receber todos os comentários, quer os leitores concordem ou não com a minha apreciação;

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Muito se esperou pelo terceiro livro da “Trilogia da Herança”, o livro que nos traria o fim da história, que nos mostraria o destino de toda a Alagaesia, o destino dos homens bem como o destino dos Dragões. Mas, passados mais de dois anos de espera, eis que surge uma noticia que tudo mudaria: já não esperávamos pelo final da história! A mesma teria sido impossível de ser explanada apenas num livro. Assim morreu a “Trilogia da Herança” e, dando os seus primeiros passos, nasceu o “Ciclo da Herança”. Correndo o risco de ser injusto a minha primeira reacção a esta notícia não foi positiva, ficando no ar um cheiro incomodativo de um colossal engodo, de um livro que pouco contribuiria para o desenrolar da história, enfim, de uma tremenda jogada de marketing com vista ao puro e simples lucro. Mas como quase sempre as primeiras impressões se revelam erradas decidi esperar para ler Brisingr e depois perceber se me encontrava certo ou errado. Finalmente o livro foi publicado e não demorou muito tempo para que tivesse oportunidade de adquirir um exemplar. Iniciada a leitura rapidamente me senti de novo impregnado na história, de novo me identifiquei com o universo de Paolini onde fluía a verdadeira base do enredo: o laço que une Eragon ao seu Dragão, Saphira. Página atrás de página a leitura foi-se revelando agradável e, para minha surpresa, sentia abandonar os meus receios iniciais. Foi este o primeiro contacto com a nova obra de um autor que não goza agora do estatuto de juventude dos primeiros tempos, e a quem lhe é exigido nos dias de hoje, por parte de críticos e fãs, uma maior maturidade na sua escrita e um desenvolvimento rápido das suas capacidades. Contudo, à medida que avançava nas páginas uma lenta monotonia pareceu abater-se sobre as linhas, onde teimavam em não aparecer verdadeiros desenvolvimentos na acção principal, tendo o autor escolhido desenvolver alguns pormenores que se prendem essencialmente com as personagens algo secundárias, ao invés de incutir na sua escrita maior incisão para um ritmo mais acelerado. Fiquei, no entanto, muito satisfeito com a maior presença de Roran na história pois é, sem dúvida, a personagem que mais prefiro. Com Roran as cenas são mais intensas, onde surgem batalhas frenéticas das quais destaco o fenomenal salvamento de Katrina. São as cenas de Eragon que de novo trazem o marasmo, que chega a ser doloroso aquando da estadia do cavaleiro do dragão em farthen-dhur, no concilio dos anões. Aqui a única cena de real interesse é o ataque movido a Eragon por parte de um clã que jurara vingança contra ele no primeiro volume do ciclo, onde é interessante ler a forma como Eragon repele os ataques ainda que esteja muito longe de Saphira, tão longe que nem conseguem comunicar um com o outro. Esporadicamente surgiam cenas que me despertavam, como se o livro ganhasse nova alma, conseguindo o autor conquistar-me com a questão sempre presente da ausência de uma espada adequada a um Cavaleiro do Dragão, levando-me a sonhar com o momento em que cavaleiro e dragão conseguissem resolver o enigma do homem-gato, resgatar a arma que se esconde debaixo da árvore Menoa. E depois, sem mais nem menos, sem um aviso prévio, aparece uma personagem fantástica, no estilo de Tom Bombadil: é agora – pensei – agora a história ameaçava uma viragem, e li incessantemente, degustando cada palavra, sonhando com o velho misterioso que parece não fazer qualquer esforço ao executar magia, que parecia deslocado, poderoso, misterioso…que procurava a resposta à grande pergunta da vida… e Paolini surpreendia-me. Preso à trama avancei sem medos para este mistério que subitamente…acabou…e assim ficou apenas um mistério, devido à  fuga de Eragon… Esperei por uma justificação mas nenhuma, repito, nenhuma explicação surgiu que levantasse o véu sobre a personagem!

Foi o forjar da espada do Cavaleiro do Dragão que mais me maravilhou, para descrever este desenvolvimento não tenho adjectivos, muito bom mesmo! E para aqueles que ainda não leram: preparem-se para a surpresa total, quando perceberem porque tem este livro o nome de Brisingr!!! Descobrido o grande segredo dos Dragões e dado o primeiro sinal de verdadeira presença de Galbatorix eis que chega o final do livro com uma cena que prometia imenso: a saída de Glaedr e do seu cavaleiro da cidade Élfica para defrontar Murthag e Thorn… Eu antevia uma batalha de proporções bíblicas mas o autor escolheu remeter esta batalha para segundo plano, tendo sido narrada em off-scene, onde nos chegavam pequenas informações da batalha e por fim o resultado da mesma…

Na globalidade Brisingr é um excelente livro, no nível de Eldest, mas onde os problemas políticos tomam conta da maior parte do enredo que é explorado pelo autor com alguns sinais de mestria, mas que tornam o livro um pouco pesado (e pensar que o editor rejeitou 200 páginas a Paolini), onde os grandes acontecimentos nos prendem até ao último instante… é pena que estas cenas mágicas aconteçam muito espaçadas entre si; Muitas vezes desejei um ritmo mais intenso, muito por culpa da minha leitura dos mundos de Goor de Pedro Ventura, onde o ritmo é avassalador e não existem pontos mortos; Destaco no livro, pelo lado positivo uma grande evolução nas descrições do universo de Alagaesia, uma evolução no relacionamento de Eragon e Arya que dá um bom toque de romance à história, uma boa incursão na mitologia e na religião desse mundo que culmina no aparecimento de um Deus, as batalhas de Roran, a travessia de Eragon pelo Império, entre outras cenas em que a evolução de Paolini é visível, ainda que espasmodicamente.

Por fim admito que estava errado, não penso agora que a passagem de três para quatro livros tenha sido uma deliberada estratégia de marketing mas sim uma escolha do autor para tornar a saga mais densa em termos de informação! Mas será densidade a mais? Veremos, quando tivermos o prazer de ler o último volume deste ciclo mágico…


Nota 8 numa escala de 0 a 10!

Roberto Mendes

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4 respostas a Brisingr – Review

  1. Francisco (PotterNews) diz:

    Concordo com a tua review. Está muito bem fundamentada e concordo quando dizes que a política é o assunto predominante no livro, tornando-o mais pesado. Realmente tem cenas de cortar a respiração como a da criação do Espectro, a batalha em off-scene de Oromis e Glaedr contra Murtagh e Thorn, a perseguição aos Razaac, entre outras. Penso que nem todas as cenas de Roran são interessantes, mas a da luta corpo a corpo com o Urgal e a batalha naquela aldeia são para mim as melhores e as mais intensas. Gostei muito do facto de Eragon conseguir a sua própria espada. Acho que a maioria dos personagens evoluiu, mostrando concepções modeladas.

    Concordo com a classificação e ”Brisingr” é um bom livro. Continua a escrever reviews.

    Obrigado.

  2. Também concordo com a tua opinião. É verdade que o livro tem momentos um tanto aborrecidos, sim. Nesta parte da história, as intrigas e relacções políticas e de facções ocuparam mais espaço que a acção propriamente dita. Também acho que, apesar desse aspecto, o livro mantém a fasquia de qualidade do Eldest, sem dúvida.
    Sim, penso que um 8 em 10 é a pontuação adequada.

    Ah, e a propósito… Belo comentário!

  3. Desireé diz:

    Ainda não terminei de ler Brisingr mas li até um ponto que não tive muitas surpresas e spoilers que aqui estão hehe.
    Concordo com você até agora na resenha, mas ainda tem partes importantes que pelo visto eu num cheguei ainda.
    Realmente a parte da politica no livro é meio massante.
    Mas estou curiosa quanto a pernsonagem que parece o Tom Bobardil, pois adorei o Tom no SdA.

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