Hoje trago-vos algo de novo. Não irei falar de um livro, não irei falar de um filme, não irei falar de um audiolivro nem de uma radio-novela. Venho falar-vos de um FLI.
FLI, um conceito do próprio autor – Haiden – significa Filme Literário Interactivo, e é exactamente disso que se trata. De um Filme que não usa Fita, de um Livro que não usa papel, e é interactivo porque podemos interagir com a obra – conforme veremos mais adiante. Na realidade, falar do conceito não será suficiente. Aquela máxima filosófica «O conceito de cão não morde» aplica-se inteiramente aqui. O conceito de FLI não será suficientemente esclarecedor, FLI é um conceito que apenas fará sentido quando experimentado.
Visitemos pois o blogue – http://www.ultimatransmissaohumana.blogspot.com.
O cuidado visual e estético que Haiden dispensou ao seu trabalho é fantástico. Existe uma preocupação radical em bombardear o leitor com estímulos visuais – recorrendo a fotos artísticas, banners, templates vários e cores – com estímulos literários – para além do texto principal que conta a história, o autor brinda-nos com poemas – e estímulos musicais – uma banda sonora pré-seleccionada espectacular ouve-se ininterruptamente, através de um I-pod Digital.
Tudo isto poderia apenas ser um grande confusão, mas não é! Está tudo harmoniosamente organizado, desde as fotos, que estão intrinsecamente ligadas com a história, passando pelos poemas que ilustram os momentos emocionais e pensamentos do personagem, até à musica que, para além se muito bem escolhida, dá um toque final que torna único este trabalho.
Façamos um paralelismo: imaginem-se no cinema; no ecrã passa uma cena (texto principal, no caso do FLI), ao mesmo tempo ouvem no fundo a banda sonora (que no FLI está sempre a tocar), e uma voz off relata os pensamentos e inquietações do personagem (uma das funções da poesia no FLI). Por isso se chama Filme Literário Interactivo. Usando as palavras do próprio autor, em entrevista a Alterwords nº 7 : «A Última Transmissão Humana é um projecto de literatura fantástica apoiado na escrita criativa e em diversificados conteúdos multimédia que formam um todo coerente que eu denomino de “ Filme Literário Interactivo “ ou apenas “ Fli “ . A introdução deste conceito inovador implica imediatamente uma transição natural para um novo patamar de exposição literária e absorção da mesma por parte do leitor que agora recebe estímulos visuais e sonoros, sentindo a história de uma forma mais profunda e pessoal como se este fosse parte integrante da narrativa, uma espécie de espectador oculto dos acontecimentos narrados.»
Vantagens do FLI face ao cinema?
Quantas vezes fomos ao cinema e detestamos a escolha das músicas para as cenas?
Quantas vezes, no cinema, vos apeteceu sair no meio da sessão porque o argumento usava palavras incompreensíveis?
Quantas vezes, saíram a meio do genérico final só porque não concordaram com o fim?
É aqui que entra a interacção.
Haiden dá-nos a possibilidade de interagirmos com a obra, e essa possibilidade torna quase impossível sairmos frustrados.
A banda sonora, apesar de estar predefinida, poderá ser alterada pelo leitor que pode parar a sequência, aceder à lista de musicas e escolher faixas mais do seu agrado.
O texto está muito bem escrito. Haiden escreve de modo ritmado, usa cores quentes e frias, consoante os sentimentos evocados, para marcar frases chave nos textos recorrendo à psicologia das cores e influenciando o leitor . O seu português não é corriqueiro, não é internetês, escolhe palavras longas e carregadas de sentido, palavras que não se ouvem todos os dias. E o resultado deste esforço de organização do texto é que quando damos por nós estamos a ler na mesma cadência da acção, estamos cansados quando falta o ar ao personagem, estamos em pânico quando o personagem não sabe o que está ao virar da esquina… Estamos a interagir!
Além de tudo isto, Haiden, oferece-nos dicionários on-line, caso tenhamos dúvidas de português, um Codex para compreensão da história, e outros extras: biblioteca de livros, trailers, artistas musicais, enfim, tudo o que inspirou a obra e que se relaciona com ela. E por fim, por vezes, pede-nos que decidamos o seu destino…
Mas afinal que história nos conta Haiden?
A acção passa-se em 2080, pouco tempo depois de se ter descoberto que as calotes glaciares do pólo-norte, na Terra, estavam a derreter parcialmente. Haiden, o personagem principal, é um programador informático contratado pela GENOTECH, uma empresa de investigação do genoma humano situado numa colónia de Marte, recebe esta notícia chocante e, antes mesmo de ter recuperado da preocupação com a situação perigosa em que a sua família se encontraria na Terra, assiste a um acidente catastrófico num laboratório de um novo complexo molecular. Estão dadas as premissas base para a história.
O acidente espalhou uma espécie de vírus que transformava os humanos em «demónios» e, para complicar, a situação na Terra é tão grave que o planeta é evacuado para Marte onde os esperaria um Inferno.
Os primeiros capítulos são alucinantes. É a lei da sobrevivência que fala mais alto. Um homem sozinho, contra os «exércitos de Dante» ( palavras de Haiden), tenta não morrer em nome de uma missão temerária: impedir as naves terrestres de aterrarem e assim salvar a humanidade dum fim horrível, e mais que certo, às mãos dos «demónios» (palavras de Haiden novamente).
Será que consegue?
Resta-me dar os parabéns a Haiden! O trabalho está muito bom, e o melhor é que ainda não está acabado!
Os textos são fluídos, têm um ritmo frenético, consistente com os relatos, que aceleram e abrandam consoante a acção, e é envolvente; a expansão de consciência proporcionada pelos textos de poesia é revigorante, pois permite-nos respirar, sentir os textos já lidos de outra forma; e a banda sonora, para além de elevar o espírito para um nível de entendimento quase transcendente, oferece-nos a possibilidade de experimentar novas emoções sempre que relemos um texto sob o som de diferentes faixas.
Estou ansioso para ler o próximo capítulo.