Aí está a primeira antologia de contos Steampunk Brasileiro:
Primeiro livro nacional de contos com temática Steampunk chega às livrarias o STEAMPUNK é um gênero extremamente visual da literatura fantástica e nos últimos anos vem conquistando milhares de leitores. Observando esse mercado emergente e a carência de obras na linha, a Tarja Editorial lançou o livro “Steampunk – Histórias de Um Passado Extraordinário”, trazendo 9 autores com contos inusitados e muito criativos dentro da narrativa Steampunk.
O movimento literário Steampunk nasceu no final da década de 80, início da década de 90, nos Estados Unidos, sendo criado como um subgênero do CyberPunk. A idéia do Steampunk é utilizar o conceito dos grandes avanços tecnológicos e da degradação social que o acompanha, ambientando as estórias na Era Vitoriana (século XIX).
A Revolução Industrial, as crises internacionais e o desenvolvimento de tecnologias como o vapor – steam em inglês –, o motor a explosão, a corrida pelo domínio dos céus e os primeiros passos no uso da eletricidade, abriram uma gama de possibilidades para trabalhar personagens reais e literários, recriando a História como algo novo.
“Pouco foi lançado no Brasil dentro desse gênero. Praticamente tudo o que se vê nas prateleiras das livrarias é material de autores estrangeiros. Essa obra é a primeira com conteúdo nacional a ser lançada implicitamente dentro do gênero”, afirma Gianpaolo Celli, autor e organizador do livro.
Gianpaolo Celli trouxe uma história clássica, com referências históricas reais misturadas com ação e intrigas, envolvendo sociedades secretas e o prelúdio do que se tornou a guerra Franco-Prussiana. Fábio Fernandes apresentou uma adaptação primorosa do complexo de Frankenstein, com uma visão fascinante de um futuro onde a sociedade divide seu espaço com a maquinidade. Antônio Luiz rompe as amarras do metal, trabalhando avanços em outra área de estudo, com ambições até mesmo maiores e mais perigosas: a medicina. Alexandre Lancaster cedeu uma narrativa com ares de ficção científica, onde a ciência aponta que somente pode ser vista com simpatia se for inofensiva, caso contrário, torna-se uma maldição. Roberto Causo transporta o leitor para uma viagem repleta de escaramuças pelas selvas de nosso país, mas não entre as árvores, mas acima delas, mostrando Santos Dummont de uma forma inusitada. Claudio Villa arremessa o leitor para o mar, singrando suas águas acima e abaixo, em busca de um tesouro que leva o leitor aos ares do terror lovecraftiano. Jacques Barcia nos dá um conto “estranho”, unindo o drama da guerra, máquinas quase humanas e seres inacreditáveis da mitologia em um caldo que realmente proporciona uma nova criação. Romeu Martins transporta o leitor para um ambiente de faroeste a brasileira, com o clima típico desse estilo de folhetim, mas com heróis e bandidos extremamente vaporosos. E Flávio Medeiros encerra as páginas da obra com chave de ouro, mostrando os clássicos dirigíveis e submergíveis em um drama de honra que certamente agrada muito aos apreciadores do gênero.
Índice rápido de autores:
Alexandre Lancaster,
Antonio Luiz M. C. Costa,
Claudio Villa,
Flávio Medeiros,
Fábio Fernandes,
Gianpaolo Celli,
Jacques Barcia,
Roberto de Sousa Causo e
Romeu Martins.
Os autores falam de seus contos:
Roberto Causo – Durante a pesquisa para o meu livro *Ficção Científica, Fantasia e Horror no Brasil: 1875 a 1950*, quis escrever algum tipo de ‘FC recursiva’ com Santos Dumont e que permitisse o diálogo intertextual específico com obras antigas da FC brasileira. A antologia Steampunk* me deu a chance de fazer isso, e nesta aventura verniana estão Santos Dumont, o Padre Landell de Moura e a Imperatriz Isabel, com a floresta amazônica e a cidade perdida dos atlantes de Jerônymo Monteiro — mais uma boa pitada de Causo, dando a liga.
Claudio Villa – Em meu conto, busquei fazer uma homenagem ao autor de horror H.P Lovecraft 1890 / 1937), Caracterizado por uma narrativa psicológica em primeira pessoa, os personagens de Lovecraft são pessoas comuns que em algum momento de suas vidas se deparam com o desconhecido e o assustador, perdendo sua sanidade ou mesmo suas vidas. Em meu conto intitulado “O Dobrão de Prata” conto a história de um renomado professor de história que em meio a suas pesquisas descobre sobre o naufragio de um antigo galeão espanhol carregado de prata. Sua ambição porém ira arruinar sua vida a medida que ele singa os mares afim de recuperar esse tesouro.
Fábio Fernandes – Uma Breve História da Maquinidade” é uma versão estendida (e com final modificado) do conto “The Boulton-Watt-Frankenstein Company”, publicado em fevereiro deste ano na revista americana online Everyday Weirdness. O conto mostra uma terra alternativa onde não só Victor Frankenstein teria realmente existido como também não desistiu no “primeiro protótipo”, ou seja, o monstro que todos conhecemos. Depois que a experiência fracassou, ele simplesmente se voltou para o mundo das máquinas – e alterou para sempre o curso da história. É o primeiro de uma série de histórias que estou escrevendo (a segunda, “The Arrival of the Cogsmiths (oil on canvas, by Turner, 1815)”, foi publicada também na Everyday Weirdness em abril, e estou terminando outras duas, uma flash fiction e uma novela, ambas em inglês).
* The Boulton-Watt-Frankenstein Company” saiu em versão podcast no site britânico StarShipSofa, em sua edição 92.
Flávio Medeiros – POR UM FIO: Existe sentido ao falar em “ética” na guerra? Quando o ser humano usa o melhor de sua capacidade para encontrar maneiras de destruir seu semelhante, até que ponto falar em “regras” soa como hipocrisia? Em um universo alternativo, onde o Império Britânico combate o Império Francês em plena Era Vitoriana, dois grandes comandantes enfrentam esse dilema, ao mesmo tempo em que travam uma dramática batalha de vida ou morte entre o céu e o mar.
Romeu Martins – “Cidade Phantástica” é uma história alternativa que imagina um Brasil potência industrial no século XIX, uma vez que o país foi governado de modo bem mais liberal por D. Pedro II influenciado por um consórcio de empresários liderados pelo Barão de Mauá.O imperador aboliu a escravatura por volta de 1855 e fez acordos diplomáticos com nações vizinhas, evitando a Guerra do Paraguai. A noveleta ambém é uma ficção alternativa poisse apropria de um personagem de Jules Verne, do romance Da Terra à Lua, e um casal de Conan Doyle, do conto “A ponte de Thor”, além de alguns outros que é melhor manter em segredo. O clima é de um western à brasileira (faroeste feijoada?) com conceitos de steampunk e estilo pulp.
Antonio Luiz Costa – Acompanhado de seu melhor amigo e conselheiro, um conhecido fabricante de emplastros do Rio de Janeiro vai a Piratininga (uma São Paulo alternativa) a convite de um pesquisador tupiniquim do Instituto Butantã, que lhe faz uma proposta irrecusável, cujas consequências podem mudar completamente sua vida e a face da sociedade. O meu conto é situado numa história alternativa na qual não foi D. João VI e sim D. Sebastião quem trouxe a sede do império português para o Brasil. Em consequência, a cultura brasileira toma outro rumo, tornando-se muito mais tupi, desenvolve-se muito mais rápido e muda os destinos da humanidade. A história se passa no reinado de um certo D. Pedro II, mas a escravidão foi abolida há séculos e o País tem um desenvolvimento tecnológico comparável ao da Inglaterra
Trechos dos contos:
1 – O Assalto ao Trem Pagador. Gianpaolo Celli
“O dardo perfurou a proteção de couro entre as placas peitorais e, no momento que atingiu o alvo, fechou o circuito da arma, liberando a eletricidade. O soldado então teve um espasmo momentâneo e tombou desmaiado.”
2 – Uma Breve História da Maquinidade. Fabio Fernandes
“Chega de acordar assustado no meio da noite, pensou Frankenstein, admirando o bronze polido reluzente do seu autômato, tão diferente da carne humana marmórea”
3 – A Flor do Estrume. Antonio Luiz M. C. Costa
“Depois de quinze anos de pesquisas, conseguimos produzir, aqui mesmo, um germicida potentíssimo, mas que é inofensivo para a maioria das pessoas.”
4 – A Música das Esferas. Alexandre Lancaster
“Ciência só era vista com simpatia quando era inofensiva; quando dava muito errado, ou pior, muito certo, ela era tratada como maldição.”
5 – O Plano de Robida: Um Voyage Extraordinaire. Roberto de Sousa Causo
“O aeróstato foi então sacudido por um fragoroso impacto que jogou Ulisses contra a amurada. Aos seus pés veio rolando Santos Dumont.”
6 – O Dobrão de Prata. Claudia Villa
““Um escafandro!” – pensei. Como não havia pensado em solução tão simples? Era certo que não possuía a robustez e a segurança de um submarino, mas se alguém aceitasse assumir o risco, eu estava certo de que o equipamento aguentaria.”
7 – Uma Vida Possível Atrás das Barricadas. Jacques Barcia
“aquela esfera sugando energia do vácuo era o único lugar do universo conhecido, disseram, onde um motolang e uma golem poderiam viver sem mendigar a aprovação de seus donos.”
8 – Cidade Phantástica. Romeu Martins
“— O efeminado do Impey deturpou o uso original de um canhão com aquela ideia ridícula de pousar na Lua. Utilizei os cálculos e os aprimorei na arma suprema.”
9 – Por Um Fio. Flávio Medeiros
“Pela primeira vez na história daquela guerra as duas chamadas “lendas vivas”, o Almirante Nemo e o Comandante Robur, encaravam-se olhos nos olhos.”
Muitas obras interessantes se vão publicando daquele lado do atlântico, e nós neste rectângulo à beira mar plantado não temos a eles acesso, o que é uma pena. Tomáramos nós que os dois mercados livreiros fossem apenas um.
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