Disponibilizamos aos leitores o primeiro capítulo do novo livro de Carla Ribeiro. “Senhores da Noite” estará disponível a partir da próxima semana e começa assim:
Um vulto negro avançava por entre a infinita brancura da neve, em direcção a uma outra forma que, também negra sobre o branco em seu redor, o aguardava. As suas vestes esvoaçavam no vento gelado, traçando em negrura os contornos do seu corpo. A forma que aguardava era uma mulher, e o seu longo cabelo negro voava nas asas do vento forte, como um lenço de seda em gestos de despedida.
O outro avançava, imponente, de rosto coberto pelo capuz do manto negro. Aproximava-se lentamente, sabendo que, agora que ela o vira, seria esperado durante o tempo que fosse necessário. Depois, ao chegar junto da mulher, disse-lhe, num tom de voz ironicamente casual:
– Soube que me procuravas.
– É verdade. – respondeu ela.
– O que pretendes?
– A tua vida.
– Ah, sim? – perguntou ele, em tom de troça – Julgas porventura que és a primeira? Não sei o que te leva a pensar que a conseguirás… Queres revelar-me os teus motivos?
– Não os sabes, Moranius? – replicou ela, com um sorriso breve – Este mundo é demasiado pequeno para nos conter aos dois. Só há lugar para um Senhor da Noite, e esse lugar será meu.
– É isso que queres, Deletress? – perguntou Moranius, rindo – Mais cedo ou mais tarde, teria de te procurar… Como dizes, só há lugar para um de nós e a tua reputação precede-te. Ainda assim, era minha intenção dar-te mais algum tempo. Tens a certeza de que estás preparada para me desafiar?
– Não me tentes meter medo, Moranius. Não me assustas. E não me conseguirás afastar… Ou – sugeriu ela – será que és tu quem está com medo?
Moranius riu, uma gargalhada gélida, estéril como a neve em redor.
– Não me insultes, Deletress. – disse – Lembra-te de que fui eu quem veio ao teu encontro. Uma única questão… Pretendes resolver isto em privado, ou preferes fazê-lo diante de todos os nossos seguidores?
A voz de Moranius era rouca e sibilante e, ao longo de toda a conversa, ele tinha vindo a diminuir o volume da sua voz, de modo a que a atenção de Deletress não se desviasse de si nem por um único momento.
– Quero que assistam. – respondeu ela, na sua voz calma e profunda – Todos saberão quando tu caíres. Mas pergunto-me… Não tenho o direito de ver a tua cara, Moranius? Vês-me desde que chegaste. Eu não me escondi.
Moranius ergueu o olhar para o rosto pálido de Deletress, para os seus olhos de um verde profundo, para o seu cabelo negro, liso e delicado, que esvoaçava no vento, e percorreu, depois, com um olhar lento e perturbador, toda a forma do corpo alto e esbelto da mulher, escondido sob as suas vestes que, voando com o vento, moldavam a sua forma perfeita.
– Claro. – respondeu Moranius, após uma longa pausa, baixando o capuz. – Tens medo que te fuja e que não me possas reconhecer, uma vez que nunca me viste? Pois vê bem e nunca te esqueças do que vês, pois eu serei o rosto da tua morte.
Deletress observou-o cuidadosamente. Moranius era um pouco mais alto que ela, dotado de uma poderosa imponência. O seu corpo era perfeito. A sua pele era de uma palidez quase cadavérica, o que lhe conferia uma beleza sobrenatural. O seu olhar parecia um estranho cristal, de um azul tão claro que quase parecia branco e os seus cabelos negros, ligeiramente ondulados, caíam-lhe sobre os ombros como uma suave cortina.
– Que pena – observou ela – seres meu inimigo…
– Diria o mesmo… – respondeu Moranius, lançando à sua oponente um olhar avaliador – Mas somos o que somos.
– Encontramo-nos aqui, amanhã, à mesma hora? – sugeriu Deletress.
– Sim, cara adversária… – concordou ele – E não te esqueças de ninguém. Os teus seguidores ver-te-ão a implorar por misericórdia.
– Ou a ti, Moranius… Ou a ti.
A escrita da Carla acaba por se tornar numa verdadeira “page turner”.
Concordo plenamente…
Está maravilhoso… 😀
Mais uma vez parabéns….
Boa tarde,
E quando é que sai a edição em português?