Resenha- Golfinho de Júpiter

Terminei hoje a leitura de uma das novelas que a editora Antagonista reuniu e publicou no primeiro volume da colecção MIR. Recebi o exemplar na semana passada mas só ontem me foi possível começar a leitura do mesmo. Comecei pela autora estrangeira, não por desconsiderar os autores portugueses ou por lhes reconhecer menos mérito mas sim porque tinha mais curiosidade por esta história de ficção científica, género que prefiro. Contudo, se me for possível, ainda hoje lerei a novela “Pela Sombra Morrerão” de Carla Ribeiro.

Parti para a leitura desta obra, nomeada para o prémio Hugo em 1997, com bastante curiosidade, pois desejava perceber como a autora iria explorar a relação entre Anton e Jonah, sendo este um personagem muito especial, possuindo uma IA retirada de um miúdo de treze anos que havia falecido devido a uma doença que assolou o planeta, denominada Santorres. Será Jonah uma máquina ou um indivíduo? Esta é uma pergunta difícil de responder, mesmo depois de terminada a leitura.

A autora não defraudou as minhas expectativas em relação ao desenvolvimento da trama, colocando muitas questões importantes durante o desenvolvimento, assentes em pretensas “coincidências cósmicas” que vão acontecendo com um bom ritmo, muito parecido ao imposto nas novelas policiais, temática que não é estranha à autora pois já publicou policiais sob pseudónimo.

De início acompanhamos um diálogo entre o personagem principal Anton Kraj e Sandra Li, directora da empresa Jovan, que prepara o lançamento de uma sonda a Júpiter. Esta sonda, um protótipo em forma de Golfinho prateado munido de uma IA que lhe permite experimentar sentimentos humanos, desenvolve uma amizade diferente com Anton Kraj, enquanto este investiga a Jovan para dar um parecer “jornalístico” online, local onde é uma voz muito respeitada.

Mais tarde acompanhamos essa amizade crescente entre Anton e Jonah, que constitui o ponto mais forte da obra, sempre com diálogos muito vivos e repletos de sentimento.

Devo dizer que encontramos nesta história um reflexo do que muito provavelmente será o futuro que nos acolherá dentro de alguns anos, uma sociedade onde o mais importante é o consumo de informação pelas massas, agora com possibilidades de se ligarem online através de um implante cerebral, denominado Biointerface . São então o marketing e o jornalismo que dominam esta sociedade, relegando a ciência para um plano inferior, recorrentemente explorada pelas especulações bolsistas que fazem surgir e desaparecer investimentos ao ritmo do que as empresas necessitem para lavar dinheiro nos wormholes criados. As empresas ganham e perdem dinheiro com base em anúncios publicitários desenvolvidos por homens como Anton Kraj e  colocados online.

Gostei de toda a história, principalmente da forma como várias questões são abordadas: onde termina o humano e começa a máquina? Poderá a alma humana sobreviver à morte do corpo e ser transplantada para uma máquina? A quem pertence a alma? Quais os efeitos da especulação bolsista no futuro? Poderá um homem tornar-se numa máquina e uma máquina vir a ser um homem? E a mais importante de todas, explorada com mestria até ao final: como reagirá o homem quando for possível relacionar-se com máquinas inteligentes e com sentimentos? As respostas a estas questões vão sendo dadas pelas acções de Anton e Jonah, até ao final em que tudo fica claro, talvez até um pouco claro demais para Anton… Sem dúvida uma novela que me agradou, com uma escrita clara e objectiva, sem pomposidade, que cumpre o objectivo da boa FC: tentar colocar interrogações sobre o nosso futuro, apresentando problemas que nos podem vir a ser colocados, talvez até mais brevemente que o que esperamos.

Quanto ao volume, este apresenta a qualidade normal nas impressões da Publidisa, um livro de bolso que tem melhor qualidade física que a antiga Argonauta e que torna realidade uma ideia que me agrada, juntar duas novelas, uma de um autor estrangeiro consagrado e outra de um autor português. Gostaria mais de ver duas novelas de FC juntas, podendo a Antagonista apostar em juntar obras de apenas um género por volume, explorando em outros volumes obras de terror e fantasia, contudo é de louvar a coragem deste projecto, que certamente terá sucesso.

Apenas de referir o ponto que me pareceu mais negativo, a formatação do texto que por vezes beneficiaria de algumas quebras, para o leitor não se desorientar com os saltos da narrativa. Espero postar amanhã a resenha da novela da Carla Ribeiro, até lá os meus parabéns à editora Antagonista e um resto de bom dia a todos!

Roberto Mendes

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2 respostas a Resenha- Golfinho de Júpiter

  1. Morrighan diz:

    Tenho bastante curiosidade em ler estas duas novelas 🙂 Espero poder fazê-lo em breve.

    Com a tua crítica fiquei ainda mais curiosa.

  2. Pingback: Esta semana (2010-05-01) « Rascunhos

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