Voltamos por fim às Vinhetas, temos ainda 10 para publicar:
Endovélico
Olinda P. Gil
Numa tarde primaveril, um grupo de caminhantes bem equipados explorava os terrenos junto à ribeira de Lucefecit, perto do Alandroal.
– Está aqui indicado! Rocha da Mina é por aqui! Sigam-me! – disse aquele que parecia ser o líder do grupo.
O terreno ao longo da ribeira era verdejante, com árvores frondosas. Encontram uma ponte de madeira, que os deixou deslumbrados.
– Não fazia ideia que este lugar era tão belo! – exclamou uma das raparigas do grupo.
Pouco depois de passarem a ponte repararam nuns rochedos que pareciam despontar abruptamente no terreno. O líder do grupo voltou a falar:
– Julgo que temos de subir os rochedos. É um pouco perigoso. Mas não há modo de seguir a ribeira.
Quanto mais avançavam, mas se sentiam encantados. Quando chegaram ao topo do rochedo já não tinham palavras para descrever a beleza do local, que a cada passo aumentava. A ribeira corria, com um som límpido, num vale muito estreito, construído por rochedos como aquele onde se encontrava.
Então, o tempo mudou subitamente e começou a trovejar. Uma rapariga atenta chamou a atenção ao resto do grupo.
– Cuidado! Caíu um relâmpago perto da ribeira.
Foi então que viram uma figura humanoide, gigantesca, parecendo feita da mesma luz dourada de um relâmpago:
– Eu sou o deus Endovélico! Fui adorado por povos da antiguidade até ao tempo do cristianismo! Como vos atreveis a incomodar o meu descanso, se não for para me adorar?
O grupo estava aterrorizado, nunca tinham ouvido falar de tal fenómeno! Eles eram apenas praticantes de orientação. Ninguém foi capaz de proferir palavra.
– Deixar aqui os vossos pertences, e abandonai este local sagrado imediatamente! – vociferou o deus.
Assim que os caminhantes partiram assustadíssimos, Endovélico começou a remexer nas mochilas abandonadas, até encontrar um livro.
– Vollüspa, finalmente!
Info: Professora e Formadora de Português, foi colaboradora no DN Jovem. Posteriormente participou com outros colaboradores do suplemento no site na-cama.com e jotalinks (actualmente extintos). Foi 3º prémio no concurso literário “Lisboa à Letra” em 2004, na categoria de prosa. Actualmente escreve no blog: http://acasadoalfaiate.blogspot.com